A Organização Mundial de Empresas

Tirar partido da sustentabilidade

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Michael Wilkins, Diretor de Finanças Sustentáveis da S&P Global Ratings, explora as disrupções positivas da transição energética, nomeadamente as iniciativas climáticas e os avanços tecnológicos.


Com a intensificação dos esforços para a descarbonização global, também a consciencialização para o investimento “verde” foi reforçada – isto é, o investimento considerado benéfico em termos ambientais. Tal alocação de capital poderá ser considerada como um diferenciador competitivo nos portefólios devido ao potencial para os ativos com maior fluxo de fundos, à maior mitigação de riscos, e um modelo de negócio sustentável no longo prazo.

Contra este cenário, têm-se visto diversas indústrias – muitas vindas de setores tradicionalmente “não verdes”, incluindo metais, mineração, petroquímicos, indústria pesada, energia e potência – a apostar em estratégias sustentáveis mais amplas.

 

Políticas: o motor da mudança

O que está a motivar o desenvolvimento? Em parte, a par das iniciativas climáticas nacionais e regionais, existe hoje uma maior sensibilização para os riscos climáticos entre empresas, investidores e na sociedade mais ampla.
A recente vaga de investimento da China em energia não poluente e iniciativas sustentáveis assinala uma aceleração na agenda do país para se tornar um “superpoder sustentável”. Conta já com cerca de 71% da produção global de tecnologia para painéis solares, manufaturando ainda mais baterias de iões de lítio do que qualquer outro país.

As políticas verdes da China – parte substantiva da iniciativa transformativa Belt&Road – poderão representar um reconhecimento do papel que o investimento sustentável tem na atração de capital estrangeiro. De facto, estima-se que os objetivos energéticos e climáticos do país de 2015 a 2020 exijam entre 480 a 640 mil milhões de dólares de investimento. Até 2040, a China planeia investir 6 triliões de dólares adicionais na produção de energia com baixa emissão de carbono e nas tecnologias não poluentes, o que, se cumprido, poderá superar amplamente o investimento de muitos países da União Europeia e dos Estados Unidos.
Tais objetivos ambiciosos têm gerado algumas rivalidades noutros pontos do mundo. Isto, combinado com o anúncio da Administração Trump de retirar o país do Acordo de Paris, desencadearam alguma preocupação no seio dos Estados Unidos de que os desenvolvimentos tecnológicos poderão estagnar neste ambiente mais isolacionista.

Contudo, ainda há esperança para os EUA nas suas iniciativas estatais. Em Setembro, Edmund J. Brown, o Governador da Califórnia, confirmou formalmente o compromisso do estado em alcançar uma economia neutra em carbono, tendo assinado o SB100, um mandato que pretende que 100% da energia da Califórnia seja proveniente de fontes não poluentes até 2045 – hoje, tal representa 35% da energia consumida neste estado. A Califórnia tem ainda um sistema de comércio de carbono que visa o cumprimento de normas tanto para o combustível para transportes como para o com baixo teor de carbono, ambos capazes de incentivar o desenvolvimento de biocombustíveis avançados e todas as tecnologias aí associadas.
Por outro lado, o objetivo da União Europeia de reduzir as emissões de CO2 até 2030 em 40% comparativamente aos números de 1990 permitiu aumentar o perfil dos esforços globais de sustentabilidade. Mesmo a Noruega, rica em petróleo, tem ambicionado uma maior descarbonização, restringindo os seus parâmetros em setores como o dos transportes, onde ainda há muito espaço para melhorar.

 

Disruptores tecnológicos

Tanto para os investidores privados que pretendem diversificar os seus portefólios, como para os Governos que pretendem alcançar os seus objetivos de sustentabilidade, o investimento em fontes de energia renováveis e com baixa emissão de carbono terá uma importância acrescida no futuro.
Tais oportunidades devem ser analisadas com diferentes perspetivas quando se avalia a qualidade do crédito – em especial porque a tecnologia energética com baixa emissão de carbono continua a crescer. Ainda, os desenvolvimentos na energia renovável, tal como a eólica e a solar, a par de outros projetos de construção, estão sujeitos a prazos longos e a custos antecipados bastante significativos. A isto acresce que os parques eólicos e solares estão também expostos a condições climatéricas imprevisíveis e, quando operacionais, a obstáculos na disponibilidade dos recursos.
Se os projetos de baixa emissão de carbono são para proliferar, o fornecimento de energia deve estar garantido. De modo a garantir o fornecimento da rede de produção e abastecimento em caso de falhas durante os períodos de condições climatéricas instáveis, o armazenamento de energia em baterias terá de ser desenvolvido e “banalizado”.

Mas há ainda muito caminho a percorrer. Por exemplo, a capacidade de armazenamento terá de aumentar exponencialmente para se poderem alcançar os objetivos da Califórnia em termos de energia renovável. Não obstante, uma vez que essa capacidade melhore, o crescimento poderá ser bastante significativo. À medida que a tecnologia renovável avança, as perspetivas podem ser comparadas ao seu desempenho operacional real, providenciando uma maior clareza e informação, e, em última instância, encorajando os investidores a apostarem em ativos renováveis.

 

Avançar neste caminho

Ultrapassar obstáculos tecnológicos e jogar em ambientes regulatórios e políticos complexos é essencial para que o “investimento verde” continue a crescer. Estes projetos de baixa emissão de carbono encontram-se na intersecção entre a economia e a política, e a distribuição de tecnologia energética exigirá um acesso contínuo ao mercado de capitais. Mesmo com uma maior economia, tal obrigará a um maior nível de transparência no desempenho e custos destes ativos.
Esta poderá ser uma aposta dispendiosa no curto prazo, mas poderá ser também a que trará mais retornos no futuro.

 

Nota: o conteúdo deste artigo não reflete necessariamente a posição oficial da Câmara de Comércio Internacional. As opiniões expressadas são da responsabilidade dos seus autores.

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